terça-feira, 3 de maio de 2011

Intimidade

Intimidade

Não sei por que, mas, em muitos casos, existe o receio de explorar a intimidade. Ir além da superfície agitada da mente e analisar as reais vontades a serem encontradas quando se aprofunda no silêncio, a decifrar um sentimento. São inúmeras as vezes que abortamos pensamentos que com certeza nos levariam a descobrir um pouco mais, os desejos enterrados no âmago do ser. Trazê-los a luz, trariam alívio e prazer de conviver melhor com o universo à volta.
Bem... Compreendo ser normal ter medo da profundidade. Quando vamos à praia, respeitamos o mar e, só mergulhamos numa distância onde somos capazes de dominar o fundo que nos dá pé. Tudo em nome da segurança, principalmente se não sabemos nadar. Claro que este sentimento tem um motivo intrínseco. O de não encontrar uma surpresa desagradável que possa trazer o perigo iminente, evitando, assim, um afogamento inesperado. Nada mais lógico, embora seja correto tomar alguns cuidados, também é preciso enfrentar desafios para solidificar a coragem. A firmeza de ânimo frente às ameaças esclarece a realidade e coloca ao alcance a possibilidade da conquista. Isso acontece, quando desvendamos e nos tornamos amigos íntimos de algo desconhecido. O conhecimento liberta o homem.
Sabemos que com aprendizagem e treinamento é possível manter relações com o que nunca se viu a fim de descobrir os limites que podemos suportar. Explorar o interior de um espaço vazio é superar e interagir com o mundo que ainda está por vir. Obstruir esta potencialidade é castrar a vida. Infelizmente, a maioria é educada e treinada a ter medo de tudo e de todos. E, muitos são medrosos, a lutar por vencer a dança do quem sou, onde estou e aonde vou. Longe da própria intimidade.
Tudo está na mente. Senhora de si, julga ser o centro das atenções. Sente-se poderosa por se achar à frente da lei e da ordem, inibindo a qualidade do que é verdadeiro. Filtra as informações que vem do interior e manifesta os interesses pessoais. Sempre temerosa em se afastar do poder, pratica ações enganosas para não perder a soberania. Age na camada superficial onde habita os egos. Como a bruxa dos contos de fadas, não permite o autoconhecimento para acordar o príncipe do sono profundo. Rompe a intimidade. Uma das soluções para tantos desafios é ir ao encontro do domínio mental e torná-lo cúmplice do coração.
Fracos são os homens que consente atos ilusórios. São pessoas que vivem a empurrar com a barriga e a pensar que estão no controle dos resultados. Distante da própria sinceridade vive a mentira. Dominado e dependente do conceito da individualidade.
Assim são as ações mentais que não tem parceria com a consciência. Que não deixa ser guiada pela realidade do âmago interior que quer a manifestação sábia do amor a compor o fluxo da vida.
Só tem uma saída... Ter respeito por você. Ser guerreiro e não burlar o autoconhecimento. Mergulhar além da superfície mental e retornar carregando um pouco da faculdade de não julgar os próprios atos. Ser o seu melhor amigo.

Rubens Fernandes
rubensfernandes@bol.com.br

Um comentário:

Denys disse...

Esse "explorar do Eu" não compreende apenas em beneficiar a si mesmo. Pelo contrário, ao invadirmos tais profundezas do ser encontramos as notas musicais da vida em harmonia com o amor ao próximo. Inspirante texto, Rubens.